domingo, 14 de dezembro de 2014

Crítica: As Aventuras de Tintim, de Steven Spielberg


As Aventuras de Tintim

Steven Spielberg faz o que sabe, e faz bem


Steven Spielberg é um cineasta admirável. É difícil não se impressionar com O Resgate do Soldado Ryan, se emocionar com E.T: O Extraterrestre, ou se divertir com Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida. Mas, infelizmente, filmes como AI: Inteligência Artificial e Cavalo de Guerra provam que o cineasta tem uma queda para o melodrama que estraga até mesmo bons projetos. Dessa forma, a cada nova obra há sempre a expectativa de um grande filme, mas também a ameaça de um fracasso.


Felizmente, esse não é o caso de As Aventuras de Tintim, já que se trata de um filme divertidíssimo, e que apesar de previsível consegue fazer com que o espectador se importe com os personagens e se envolva nas cenas de ação.

A história gira em torno de Tintim (Jamie Bell), um jovem repórter que após comprar um barco em miniatura se vê perseguido por Sakharine (Daniel Craig), e após ser preso por este e conhecer o capitão Haddock (Andy Serkis), o rapaz se envolve em uma caça ao tesouro e muitos segredos.













Utilizando as liberdades proporcionadas pela animação a seu favor, Spielberg aproveita para criar planos impossíveis de se filmar com uma câmera física, “voando” entre os cenários e atravessando objetos, e com isso aumentando a urgência de cenas movimentadas, deixando-as mais compreensíveis e interessantes (destaque para o plano-sequência que mostra uma perseguição em diversos veículos pela cidade, que é brilhantemente cuidadoso em todos os detalhes).

Outro acerto de Spielberg é a utilização de cortes memoráveis de um acontecimento para outro. Em especial quando transforma o mar de uma cena em uma poça d`água de outra, e quando faz um aperto de mão virar uma montanha.
















Não posso deixar também de elogiar o uso do 3D, uma tecnologia cada vez mais mal utilizada, mas que aqui é trabalhada com cuidado, sem apelar para objetos voando em direção ao espectador ou câmeras subjetivas dispensáveis, contribuindo para a diversão do filme principalmente nas cenas que possuem fragmentos voando pela tela e nas que se passam no mar.


Escrito por Steven Moffat (Doctor Who e Sherlock), Edgar Wright (do excelente Scott Pilgrim Contra o Mundo), e pelo novato Joe Cornish, o roteiro não consegue fugir da previsibilidade da história, mas ainda assim estabelece personagens carismáticos, um vilão ameaçador, e diálogos inspirados (por exemplo: “Minha memória não é mais a mesma” “E como ela era?” “Esqueci”).



A trilha sonora é de John Williams, parceiro de longa data do diretor, e que mais uma vez é muito competente. Caindo como uma luva à narrativa, seus temas marcantes contribuem para deixar tudo mais empolgante, em especial as cenas de ação.

 Ainda assim, o filme tem seus deslizes. Nada que comprometa a obra, mas a impedem de ser excelente. Além da já citada previsibilidade da trama, há algumas cenas que possuem demasiada aventura em situações dispensáveis, o que acaba sendo um pouco anticlimático (principalmente a sequência que envolve a captura de uma chave que não é importante e a que se passa fora de um avião em pleno voo, que parecem existir apenas para criar fases de um possível jogo para vídeo game).







Deixando ainda um gancho para uma possível sequência (que espero realmente que aconteça), As Aventuras de Tintim cumpre seu propósito com eficiência, divertindo e empolgando. Além disso, é mais um acerto de Steven Spielberg – o que é sempre algo a se comemorar.

Muito bom!
João Vitor, 14 de Dezembro de 2014.

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