quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Crítica: Whiplash - Em Busca da Perfeição, de Damien Chazelle


Whiplash - Em Busca da Perfeição

Obsessão, humilhação e muito Jazz


Whiplash é um ótimo filme. Trazendo personagens extremamente memoráveis, uma direção cuidadosa e atuação impecáveis, o segundo longa metragem dirigido por Damien Chazelle é, desde já, um dos meus favoritos aos prêmios do Oscar 2015.


Focado em Andrew Neiman (Miles Teller), acompanhamos seus esforços em uma prestigiada escola de música enquanto seu mestre, Terence Fletcher (J. K. Simmons), submete seus alunos a constantes humilhações em sua obsessão perfeccionista. Ao mesmo tempo, Neiman acaba reduzindo cada vez mais sua vida pessoal, no esforço de chegar à perfeição e superar os desafios do professor.


Feliz desde seu primeiro plano, quando mostra o protagonista sozinho e pequeno no quadro enquanto estuda – uma representação do que é sua vida, a direção de Damien Chazelle é extremamente competente ao não chamar a atenção para si nas cenas de música, quando opta por uma montagem ágil, mas discreta, e movimentos de câmera simples, deixando o destaque para a ótima trilha, e acerta também ao incluir pequenos detalhes mais “estilosos” que acabam por sofisticar a narrativa (destaque para o plano que mostra um copo de água se transformando em vermelho com o sangue do protagonista, e as constantes manchas vermelhas nos equipamentos, que mostram o preço da obsessão crescente do personagem).










O roteiro, escrito pelo próprio Chazelle, acerta em cheio ao conseguir fazer com que os insultos proferidos pelo tirano professor soem engraçados ao público, ao mesmo tempo em que é possível compreender a gravidade destes para os alunos. A vida pessoal do protagonista também é bem retratada: sem apelar para diálogos expositivos e óbvios, o texto faz com nos importemos com o protagonista (créditos também para a ótima atuação de Miles Teller, que cria um personagem plausível, inseguro e cada vez mais obcecado) e lamentemos seu crescente isolamento do círculo social. Chazelle só erra ao exagerar no fim do segundo ato, ao incluir uma cena que, apesar de bem realizada cinematograficamente, não funciona dentro do contexto e da lógica criada pelo filme, soando implausível. Por outro lado, a “reviravolta”, se é que se pode chamar assim, presente para iniciar o clímax da narrativa é perfeitamente bem dosada, fazendo com que os últimos minutos de projeção sejam nada menos do que brilhantes.








Por mais que Miles Teller crie um ótimo protagonista, que gostamos de acompanhar e torcer, o destaque do elenco fica, sem dúvidas, para J. K. Simmons. Transformando seu personagem em uma figura ameaçadora, mas em nenhum momento menos real por conta disso, Simmons ainda se mostra capaz de conduzir uma cena extremamente intimista, quando lamenta a morte de um ex-aluno, e faz por merecer uma indicação (e, se dependesse de mim, vitória) no próximo Oscar.


As músicas compostas por Justin Hurwitz merecem destaque por serem contagiantes e contribuírem para o ritmo rápido e tenso da narrativa, além de em nenhum momento soarem repetitivas, assim como a fotografia fria de Sharone Meir, que remete constantemente às luzes amareladas presentes em palcos de teatros, dando a tudo um ar de espetáculo, e aumentando a tensão e o sentimento de ter sempre que fazer o melhor.



Trazendo ainda interessantes questionamentos sobre a diferença entre dedicação e obsessão, Whiplash se mostra – com o perdão do trocadilho – muito próximo da perfeição, trazendo personagens que entram imediatamente na galeria dos melhores dos últimos anos, além de ser um prato cheio para quem gosta de Jazz, bateria, ou simplesmente aprecia um bom filme.

Ótimo!
João Vitor, 8 de Janeiro de 2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário