segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Crítica: O Quarto de Jack, de Lenny Abrahamson

Em 2014, o diretor Lenny Abrahamson chamou a atenção do mundo com seu filme “Frank”, que se tratava de uma obra única e profundamente original, que partia de uma premissa absurda (que envolvia um músico que nunca tirava sua gigante cabeça de papel marche) para criar uma narrativa que se sustentava pela excentricidade, mas surpreendia pela sensibilidade.


Agora, pouco mais de um ano depois, o diretor volta a trabalhar em cima de uma trama esquisita (que a princípio parece uma mistura de “Oldboy” com “Dente Canino”) para criar uma narrativa delicada que tem como principal sustentação o amor entre uma mãe e um filho.

Quanto menos você souber sobre a sinopse melhor. Basta saber que o filme se inicia com uma jovem (Brie Larson) que tem um filho pequeno, Jack, (Jacob Tremblay) e eles vivem trancados em um minúsculo quarto há anos.

A direção de Lenny Abrahamson é hábil desde o início em usar constantemente a câmera na mão (o que a deixa em constante movimento) e apostar em quadros fechados, que reforçam o sentimento de claustrofobia vivido pelos personagens. Aliás, vale a pena dizer que essa abordagem mais incômoda perdura toda a narrativa, mesmo nas cenas passadas fora do quarto, já que o sentimento de deslocamento dos personagens é constante.

O designe de produção também é eficiente em criar um ambiente que mesmo colorido, é desbotado, e onde tudo parece velho e sujo, contrastando com a energia infantil do menino Jack. Já a fotografia também é competente por trazer pouquíssima luz natural dentro do quarto, deixando tudo ainda mais triste e escuro.

Apesar das qualidades, é necessário apontar que a estrutura do roteiro acaba criando alguns problemas de ritmo. Boa parte do primeiro ato é quase toda arrastada, não mostrando ao que veio. Já na transição para o segundo, onde algumas coisas começam a ficar mais claras, tudo já é bem superior, trazendo ainda uma cena extremamente memorável e também difícil de ver pelo incômodo crescente que causa – me refiro àquela que se passa em uma camionete (você reconhecerá quando ver), onde o diretor atinge o auge de seu trabalho, utilizando de maneira muito competente e precisa a câmera subjetiva (quando o espectador assume o ponto de vista do personagem), criando uma das sequências mais fortes do ano.


Outra coisa que marca o filme são suas atuações centrais. Brie Larson já surge como a grande favorita ao Oscar de Melhor Atriz, interpretando sua personagem com uma entrega absoluta e uma intensidade que dificilmente será ignorada pela Academia. Mas é Jacob Tremblay quem realmente rouba a cena. Com apenas 9 anos (na verdade 8 quando o filme foi filmado) o pequeno ator demonstra uma entrega absoluta ao seu personagem, não se limitando a simplesmente gritar, chorar e dizer suas falas com naturalidade, mas trazendo ainda uma doce inocência e uma forte convicção.

Se arrastando demais em sua meia hora final (o que faz com que o espectador saia do cinema com a impressão de ter visto um filme pior do que de fato viu), “O Quarto de Jack” é uma experiência atípica e incômoda, mas também intimista e melancólica, e que se diferencia pelo seu diretor e pela entrega completa de seus talentosos atores.

Muito Bom!

João Vitor, 10 de Janeiro de 2016.

Crítica originalmente publicada no site Pipoca Radioativa: http://pipocaradioativa.com.br/

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